A
cantora Janet Jackson anunciou,
aos 50 anos, que está grávida. E mais: de seu primeiro filho. O fato pareceria
impossível até há bem pouco tempo. Não mais. Tornou-se habitual nos dias de
hoje, graças aos avanços das técnicas de reprodução assistida.
Assim como no exemplo acima, descortinam-se
outras possibilidades: congelamento de óvulos, doação de óvulos, maternidade e
paternidade em casais homoafetivos, útero de substituição (“barriga de
aluguel”), casais soro discordantes, diagnóstico pré-implantação, etc. A
oportunidade de ter um filho está muito mais próxima do que se imagina. A reprodução
assistida também provê tecnologias para rastreamento de doenças e preservação
da fertilidade.
Um dos grandes estigmas para
mulheres e homens portadores de câncer era o futuro obscuro quanto à
possibilidade de ter filhos após o tratamento oncológico, principalmente a
quimioterapia. Esse medo foi superado com o advento das técnicas de
congelamento de gametas que ganharam força e destaque entre as opções da
reprodução assistida. Óvulos e espermatozoides são preservados através do
congelamento antes do tratamento oncológico, sem prejudica-lo ou postergá-lo,
mantendo a fertilidade.
Além da preservação da
fecundidade nesses pacientes o congelamento do gameta permite o adiamento da
paternidade/maternidade em homens e mulheres que ainda não se sentem
preparados.
Congelamento de gametas não é o
único expediente acessível. Embriões também podem passar pelo processo, seja
pelo desejo de adiar a gravidez, seja em casos de embriões excedentes nos
tratamentos de fertilização in vitro.
Neste último, embriões congelados permitem nova tentativa de fertilização em
caso de insucesso na primeira, sem que haja necessidade de nova etapa de
indução da ovulação.
Mais um progresso muito
interessante das técnicas de reprodução assistida é a gravidez em casais soro
discordantes, seja em relação ao HIV ou outras doenças sexualmente transmitidas
como as hepatites B
e C. Para evitar a transmissão, realiza-se repetidos lavados do sêmen (no caso
de infecção masculina) com o intuito de excluir possíveis vírus presentes no
plasma seminal. Quando a infecção é feminina, o tratamento de fertilização in vitro em si já evita uma possível
contaminação e o seguimento pré-natal correto, com obstetra de alto risco e
infectologista visa prevenir a transmissão da doença de mãe para feto.
A Reprodução Assistida também
avançou nas técnicas que permitem a gravidez em casais homoafetivos. O tratamento para conseguir uma gravidez em
casais formados por duas mulheres é realizado por técnicas de Reprodução
Assistida. Utiliza-se espermatozóides doados anonimamente (banco de sêmen) para fecundar os óvulos pela técnica
de ICSI. Os embriões são transferidos para o útero da futura gestante. Outra
opção é a Inseminação Intrauterina, onde o sêmen, após minuciosa preparação, é
injetado no útero de uma das parceiras após processo de indução da ovulação.
Nos casais formados por dois homens, também se pode utilizar a técnica de
Reprodução Assistida. Um dos parceiros será o doador dos espermatozoides para
fecundar óvulos doados anonimamente, in
vitro, pela técnica de ICSI. Os embriões formados serão transferidos para
uma mulher voluntária, chamada “gestante de substituição” (Útero de
substituição ou barriga de aluguel). Não obstante, o útero de substituição também
pode ser utilizado em casais heterossexuais, quando a mulher apresenta problema
anatômico no útero ou ausência deste. De acordo com a legislação brasileira, a
gestante de substituição deve ter parentesco com um dos cônjuges até o quarto
grau. Não é permitido remunerar a mulher que disponibiliza seu útero.
Por fim, um dos maiores encantos
da Reprodução Assistida, na opinião desta colunista, é o chamado PGD – sigla em
inglês para Diagnóstico Pré-Implantação. Este é um
exame que permite identificar alterações genéticas nos embriões, antes de
transferi-los ao útero. É indicado para casais que têm risco de transmitir
doenças genéticas para os filhos. O tratamento é feito da mesma forma que uma
FIV/ICSI habitual. Quando os embriões têm 3 ou 5 dias, ao invés de se fazer a
transferência, realiza-se a biopsia de cada um dos embriões para se retirar 1
ou mais células. Essas células são então avaliadas por uma técnica específica,
de acordo com a doença a ser avaliada. Uma vez identificados os embriões sem as
alterações, eles são transferidos para o útero. Podemos aplicar a técnica de
PGD em algumas outras situações como o aborto de repetição com causa genética
ou mesmo em alguns casos de falha de implantação (3 ou mais ciclos de
tratamento sem gravidez).
Os
avanços são inúmeros e cada vez mais eficientes, apesar de pouco difundidos e
acessíveis. Conversar com seu médico especialista e descobrir as infinitas
possibilidades que a Reprodução Assistida proporciona é fundamental.
Autora: Dra Leila Lamas - Ginecologista e especialista em reprodução assistida
Autora: Dra Leila Lamas - Ginecologista e especialista em reprodução assistida
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